Por: Danilo de Oliveira e Felipe Colacioppo de Moura Paiva

Este artigo abordará o conceito de motivação e as técnicas usadas para motivar uma equipe de desenvolvimento. Aborda também como direcionar uma equipe de desenvolvimento no intuito de conseguir alcançar os objetivos, metas e valores propostos pelo Scrum.

O Scrum é uma excelente ferramenta para proporcionar valores de entrega ao cliente e aos colaboradores, além de também proporcionar uma base sólida e adequada para manter uma equipe sempre motivada e disposta a entregar valores ao cliente. Por isto este artigo irá focar bastante no conceito do Scrum e como ele ajuda a aplicar técnicas de motivação.

Introdução

Equipes motivadas tendem a permanecer motivadas? Se sim, porque temos constantemente o trabalho de motivar as equipes de desenvolvimento de uma empresa? Como motivar uma equipe de desenvolvimentos? Isto de fato melhoraria a qualidade do produto e, consequentemente, a satisfação dos clientes?

O assunto motivação vem sendo um artefato de estudo há quase 60 anos pela psicologia e pelas áreas de estudo de humanas. Recentemente outras áreas como o esporte, a arte, a cultura e as grandes e pequenas corporações e empresas também vêm estudando os fatores e a importância da motivação.

Muito ainda se especula sobre o que de fato é e o que realmente produz a motivação no indivíduo. Um fator já é consenso entre todos, inclusive na psicologia, é que a motivação já se encontra dentro de cada indivíduo, não se trata de uma energia externa, e sim interna. Basta apenas saber o que desperta a motivação dentro de cada uma. Seja uma lembrança, uma experiência vivida no passado, algo que se deseja ter ou alcançar, um gatilho interno ou externo. O importante é conhecer este gatilho e saber qual é o momento certo para apertá-lo.

Conhecer os tipos de motivação já pode ser um bom início para se traçar um plano de ação para motivar uma equipe. Ver o quanto ela mudou e evoluiu de conceito desde 1959, segundo um dos primeiros estudos registrados sobre motivação feitos por Krench & Crutchfield e um dos últimos de 2004 feito por Bzuneck. A motivação intrínseca foca em “puxar o gatilho” da motivação acionando os valores internos do indivíduo enquanto a motivação extrínseca foca em “puxar o gatilho” da motivação acionando os valores externos do indivíduo.

Isaac Newton escreveu sobre a Inércia no século XVII. Um paralelo interessante com a inércia pode ser feito quando falamos sobre motivação. Segundo Newton, um corpo tende a permanecer parado até que uma força ou energia o coloque em movimento e um corpo tende a permanecer em movimento até que uma força ou energia contrária e oposta o faça parar. A primeira lei de Newton pode ser perfeitamente aplicada sobre os conceitos e sobre como funciona a motivação no indivíduo. A motivação funciona como energia, força, combustível para muitos e é este o fator que os faz ficar em movimento.

O fracasso é inevitável em alguns momentos, nada nem ninguém consegue permanecer a vida toda em constante vitória e sucesso sem que em um momento ou outro acabe se esbarrando no fracasso. Mas o fracasso não é o problema em si, o problema mesmo está em como lidar com ele. Fracasso causa dor, angústia, desânimo, sentimento de perda e derrota, não é algo tão simples assim. Mesmo as pessoas mais fortes, sejam elas fortes fisicamente ou psicologicamente, também têm muita dificuldade em encarar um momento ou uma situação de fracasso na vida. Levantar e seguir em frente é uma tarefa bastante complicada e a motivação pode ser usada como um fator energizante para se erguer e seguir em frente.

Existem muitas tipos e formas estratégicas para estimular a motivação. Usar e manipular estas estratégias com inteligência e maturidade pode ser o ingrediente do sucesso ou do fracasso de uma equipe ou projeto. Observar as vitórias diárias, criar pequenos desafios, ensinar coisas novas para a equipe, identificar e trabalhar as dificuldades de cada um e ser paciente são só algumas das formas estratégias que podem e devem ser usadas para a manutenção da motivação de uma equipe. Lembre-se, um corpo tende a permanecer em movimento até que uma força contrária e oposta o faça parar, ou seja, uma equipe ou indivíduo tende a se permanecer motivados até que uma força contrária e oposta os faça parar. Quais forças contrárias e opostas são estas? Simples! Desânimo, depressão, problemas pessoais, problemas financeiros, problemas afetivos, traumas, mudanças bruscas de estilo de vida, situação econômica própria e do país, perda material, perda familiar, enfim…. Se listar os fatores que podem causar a desmotivação (força contrária e oposta) seria mais que suficiente para se criar um artigo dentro de outro artigo.

O Scrum é um excelente meio para gerar um ambiente produtivo e motivacional. Ele cria e promove todos os alicerces necessários para se utilizar das estratégias de motivação. O Scrum é aberto, amplo, livre de processos engessados e sem sentido. Ele dá espaço para criar, inventar e ser criativo. Cria oportunidades de melhoria tanto pessoal quanto organizacional, faz com que a organização e os líderes de boa vontade usem parte do tempo para observar cada colaborador como um indivíduo único e tratar ser contundente na solução de problemas que podem causar e desmotivação.

A cultura organizacional é um fator que, infelizmente, muitas vezes faz até mesmo o próprio Scrum fracassar. Não que o Scrum seja ruim, inconsistente ou que não possa até mesmo se adaptar à algumas situações da cultura da empresa, mas pelo fato das pessoas, principalmente dos gestores, de não querer mudar ou de abrir mão do poder. O Scrum descentraliza o poder, ele desarma aquele gestor que usa o conhecimento como uma maneira de se manter e, ao mesmo tempo, de manipular seus colaboradores. O Scrum descentraliza o poder pelo simples fato de que um de seus pilares é a transparência, todos sabem de tudo (no que diz respeito aos projetos, processos e valores). Isto não significa que no Scrum não há gerentes, líderes, coordenadores, diretores, etc… Significa que as equipes passam a ser auto organizáveis e não, necessariamente, auto gerenciáveis. Hierarquia de cargos existe em toda e qualquer empresa e organização (exceto nas que usam Democracia Organizacional), o Scrum sabe perfeitamente como lidar com isto e isto não deve ser um motivo ou desculpa para não se adotar o Scrum.

O Scrum é um dos melhores veículos, se não for o melhor, para manter uma equipe motivada, produtiva e satisfeita. Ele gera e produz o ambiente perfeito e necessário para a criação de motivação onde não existe motivação e para a manutenção da motivação onde ela já existe. Estabelecer valores e resultado para o cliente a para os colaboradores são as chaves para o sucesso. Caso venha a fracassar, use as estratégias de motivação como combustível e um gatilho para se levantar, aprender com os erros e continuar seguindo em frente novamente.

O que é motivação?

Dentre todas as definições que encontrei, a que mais se adequa ao que queremos falar neste artigo é a definição que se encontra no livro de Vernon, Motivação de Humana (1973) na página 11.

“A motivação é encarada como uma espécie de força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações mais importantes. Contudo, é evidente que motivação é uma experiência interna que não pode ser estudada diretamente. ”

Segundo Vernon, é certo dizer que a motivação já se encontra dentro do próprio indivíduo. Cada um traz em si mesmo algo que o motiva, que o desperta, que o acorda para tomar uma atitude ou uma ação para alcançar algum objetivo ou meta. Um bom exemplo pessoas que não se conhecem, mas que juntas se unem com o objetivo de criar um produto ou uma solução para problemas reais, e que atenda a um fim específico. Esse é um exemplo do evento Hackathon, onde a motivação de cada participante é ganhar o prêmio e o reconhecimento que a competição proporciona.

O mesmo conceito podemos transportar para o esporte, estudo, trabalho, ou qualquer outra área da vida de uma pessoa, seja qual área for. O que nos motiva nada mais é do que uma lembrança do que temos/vivemos ou desejo do que queremos ter ou alcançar.

Em outras palavras, motivação é o impulso interno que leva à ação e à direção de onde queremos e devemos ir.

A motivação tem sido entendida ora como um fator psicológico, ou conjunto de fatores, ora como um processo. Existe um consenso generalizado entre os autores quanto à dinâmica desses fatores psicológicos ou do processo, em qualquer atividade humana. Eles levam a uma escolha, instigam, fazem iniciar um comportamento direcionado a um objetivo…

Motivação Intrínseca e Extrínseca

Existem dois tipos de motivação identificado pela psicologia, a motivação intrínseca e a motivação extrínseca. É importante compreender que nenhuma pessoa é igual a outra, sendo assim, é importante descobrir e entender as formas mais eficazes de gerar e despertar a motivação em uma equipe de desenvolvimento. Esta descoberta permite que se aplique o tipo ideal de motivação para cada integrante da equipe, gerando assim a motivação necessária para poder produzir mais de melhor de forma natural, não arbitrária.

Cada colaborador demanda diferentes necessidades motivacionais, lembre, as pessoas são diferentes. Tratar todos na equipe com a mesma necessidade motivacional é um erro e um passo para o fracasso da equipe de desenvolvimento.

Alguns colaboradores respondem melhor ao estímulo motivacional intrínseco, que significa “de dentro”, já outros colaboradores respondem melhor ao estímulo motivacional extrínseco, que significa “de fora”.

A motivação intrínseca significa que os estímulos motivacionais do colaborador vêm de dentro dele. O colaborador tem o anseio de realizar uma tarefa específica porque seus resultados estão de acordo com seu conceito de valores e crenças ou cumpre um desejo ou meta pessoal. A importância de realizar tal tarefa está ligada a ele.

Os desejos mais fortes e enraizados têm o poder motivacional mais alto. Abaixo estão alguns exemplos de motivação intrínseca que podem estar ligados aos desejos de um colaborador:

Aceitação: A necessidade de se sentir aceito é inerente do ser humano. Todo indivíduo tem a necessidade afetiva de se sentir aceito por alguém ou por algum grupo.

  • Curiosidade: Temos o desejo de possuir um determinado conhecimento, de sermos a referência de um determinado assunto.
  • Independência: Precisamos sentir que somos únicos.
  • Poder: O desejo de ser capaz de influenciar outras pessoas.
  • Contato social: Precisamos ter alguma interação social.
  • Status Social: O desejo de sentir-se importante.

A motivação extrínseca significa que os estímulos motivacionais do colaborador vêm de fora. Em outras palavras, é uma fonte externa que move nossos instintos motivacionais para realizar determinada tarefa. É importante lembrar que mesmo que os estímulos venham de fora, o resultado da execução da tarefa ainda será gratificante para o colaborador que executa a tarefa.

A motivação extrínseca é de natureza externa, não está necessariamente relacionada com o que o colaborador sente ou tem em seus valores. A motivação mais conhecida e a que mais gera polêmica ainda é o dinheiro. Abaixo estão alguns outros exemplos:

  • Prêmio empregado do mês
  • Pacote de benefícios
  • Bônus
  • Prêmios em presentes
  • Cursos de aperfeiçoamento
  • Viagens

A motivação extrínseca é tida por ser menos eficaz pelo fato de que de fora da pessoa, não pertence aos valores internos. Estímulos externos, por exemplo, podem ser, e é considerado por muitos líderes, uma forma de controle e manipulação sobre o indivíduo.

De acordo com a Teoria de Dois Fatores de Herzberg, muitas recompensas externas (por exemplo, salário, segurança no emprego, benefícios, condições de trabalho, férias) realmente não mantém a motivação, elas dão aquela sensação de objetivo alcançado, de reconhecimento, mas que é temporário, e em pouco tempo você volta ao estado, sensação e sentimento antes do “reconhecimento”. Mas se estes fatores não estiverem presentes, a pessoa pode ficar desmotivada. Herzberg chama esta forma de motivação de “fatores de higiene”.

Como lidar com o fracasso?

O fracasso é uma certeza na vida de todo mundo. Quem ainda não conheceu o fracasso, cedo ou tarde a de conhecê-lo. Ninguém gosta de fracassar, o fracasso desperta no indivíduo uma sensação ruim de medo, angústia, depressão e derrota. Traz à tona lembranças ruins e que, muitas vezes, sequer é capaz de lidar ou contornar para seguir em frente.

Mas o fracasso não é o problema em si. Uma vez que ele é certo e inevitável o que é necessário é aprender a lidar com ele. Aprender a lidar com todos os sentimentos que vimos que o fracasso promove. Não, isto não é uma tarefa simples. Para muitos até é praticamente impossível lidar com o fracasso sem uma ajuda profissional. Mas o mais importante é não ficar parado, deitado, inerte diante do fracasso. Ser proativo, lembrar dos sucessos anteriores, não se render e até mesmo buscar uma ajuda profissional podem ser pequenas receitas para superar o fracasso. Não demorar para tomar uma atitude pode ser o principal fator para voltar ao trabalho. O sentimento de fracasso é uma bolinha de neve que, em pouco tempo, se torna uma avalanche. Levar tempo para tomar uma atitude é um fator que só beneficia o fracasso, toda e qualquer atitude deve ser tomada o quanto antes para se levantar e seguir e frente.

Os grandes líderes também fracassaram. Os mártires também caíram em algum momento de duas vidas. Não importa o ídolo, o herói ou a referência, todos eles também fracassaram um dia.

Inércia x Motivação

Saber o que fazer e como fazer às vezes não é suficiente. Ter uma boa história de sucesso nem sempre é o suficiente. Sustentar uma equipe de desenvolvimento trabalhando de forma eficaz e satisfeita exige uma motivação suficiente para se mover e manter em movimento. E é aí que encontramos a inércia na motivação da equipe de desenvolvimento de uma empresa.

A Lei da Inércia de Newton diz:

Um corpo em repouso tende a permanece em repouso a menos que uma força aja sobre ele para colocá-lo em movimento. Um corpo em movimento tende a permanece em movimento retilíneo e uniforme a menos uma força aja sobre ele para fazê-lo parar.

Na física vemos os objetos em movimento parar por causa do atrito com o ar. Neste caso, o ar age sobre o corpo em movimento, causa o atrito e o faz para de se movimentar. O mesmo acontece com as equipes de desenvolvimento. Naturalmente elas tendem a parar por causa do atrito com o estressante dia-a-dia em que vivem. Fatores intrínsecos como depressão, problemas de saúde, problemas emocionais e fatores extrínsecos como problema financeiro, frustração por não poder comprar algo que deseja contribuem como forma de atrito para fazer a equipe parar de se movimentar.

Estratégias de motivação

Observe as vitórias diárias: Estar atento e observar o andamento e o comportamento da equipe é primordial. Pequenas conquistas, descobertas, evoluções, quebra de paradigmas já são motivos para elogiar e evidenciar as vitórias da equipe ou do indivíduo em particular. Por menor que seja o passo, por mais pequeno que pareça o acontecimento em questão, sempre coloque em evidência qualquer avanço da equipe ou do indivíduo. O que parece pequeno para alguns, para aquele indivíduo que se encontrava no problema e que encontrou a solução é um momento único, de conquista, de superação. Um líder precisa estar sempre atento para estes tipos de situações e saber como evidenciar o sucesso de cada um sempre que o sucesso ocorrer.

Criar pequenos desafios como diretrizes: Quando se trata do cliente o Scrum tem como um de seus objetivos o conceito de entrega contínua. A entrega contínua nada mais é do que entregar para o cliente pequenos fragmentos para que ele possa ver o andamento do projeto e assim sempre estar satisfeito com as pequenas conquistas de seu projeto contratado. Com a equipe ou indivíduo não é diferente. Traçar pequenos planos e desafios para a equipe ou indivíduo também é uma forma de manter a sensação de sucesso e constante superação. Desafios grandes e de longo prazo tendem a não se sustentar porque é difícil mensurar a evolução e ver resultado. Propor para uma equipe ou indivíduo algo como: “Aprendam uma nova linguagem de programação”, tende a fracassar com muito mais chances de que propor pequenos desafios como: “Criem um método de consulta no banco de dados com uma linguagem de programação nova”. Não é difícil notar que um desafio mais curto e mais objetivo é muito mais fácil de se alcançar a motivação e assim ter a tão almejada sensação de sucesso alcançada.

Teste e ensine coisas novas para a equipe: Uma das funções de um líder é sempre estar um passo à frente nas novas tendências, sejam elas tecnológicas, técnicas de desenvolvimento, metodologias de programação, livros conceituais, etc… Tendo isto em mente é hora de passar este conhecimento para a equipe. Não precisa necessariamente gastar dinheiro para trazer um especialista e dar um treinamento ultra profundo sobre determinado assunto. Pequenos treinamentos sobre novas linguagens de programação, técnicas de codificação, técnicas de troubleshooting estimulam bastante a equipe. Há várias técnicas e formatos para este tipo de reunião, uma bastante conhecida é o Code Review. O Code Review nada mais é do que uma revisão do código fonte, terá tal que pode ser feita juntamente com toda a equipe. Um programador mais sênior ou um líder técnico busca nos repositórios códigos que podem ser melhorados. Ele seleciona um código e juntamente com a equipe ele vai melhorando e refatorando o mesmo. Mostrando passo a passo de como fazer as melhorias e aproveitando para ensinar novas técnicas e dar dicas de um bom desenvolvimento. Nesta reunião é essencial que ninguém saiba quem foi o autor do código, para evitar constrangimentos e expor as deficiências do programador que o fez. A ideia desta reunião não é expor ninguém e sim buscar o aperfeiçoamento juntos com todos da equipe. O melhor momento desta reunião é quando um programador menos experiente identifica uma melhoria ou um problema que nem mesmo os mais experientes viram, este é um momento incrível para usar a motivação intrínseca e mostrar para o indivíduo que mesmo ele sendo uma pessoa não muito experiente ele pode agregar muito para a equipe. Acredite, estas pequenas reuniões são muito valiosas para os programadores que estão iniciando suas carreiras em desenvolvimento de software. O Code Review um elemento motivacional muito forte para a evolução e manutenção de uma equipe de desenvolvimento.

Identifique e trabalhe as dificuldades de cada um em particular: Como foi dito até agora, cada indivíduo é único e tem seus próprios defeitos e qualidades. É um desperdício de energia e de motivação para uma equipe quando um líder tenta atacar o problema de um único colaborador de forma geral, falando com toda a equipe quando ele deveria estar falando com uma única pessoa. É a famosa reunião geral para falar do problema ou de uma dificuldade de um ou outro colaborador. Este tipo de comportamento desgasta muito a equipe e torna a motivação diária ainda mais difícil. Os problemas e as dificuldades devem ser tratados de forma particular, com o colaborador que está apresentando tais dificuldades para desenvolver seu trabalho ou se manter motivado. É importante ficar atento para os pequenos comportamentos, nem todos têm a desenvoltura de procurar ajuda quando precisam, às vezes o colaborador pode se recolher e se manter calado, e quando se detecta o problema já pode ser tarde demais. Feedbacks frequentes ajudam bastante a manter uma proximidade com cada um em particular e aos poucos mostrar para cada um deles que é importante procurar ajuda quando necessário.

Seja paciente e relaxe: Motivar uma equipe não é algo que se consegue do dia para noite, demanda tempo, trabalho, dedicação, esforço e muita paciência. Alcançar um bom patamar de motivação de uma equipe pode demandar tempo, o importante é ir aos poucos, com calma. Lembre-se, pequenas metas, mas constantes.

O Scrum

Transparência, Inspeção e Adaptação. Estes são os pilares do Scrum.

O Scrum não é uma máquina, um software, um processo para construir produtos, o Scrum é um framework dentro do qual é possível implementar processos, práticas e métodos para construir valores ao cliente e ao colaborador.

Existe um equívoco quando se pensa que o Scrum está ligado a documentações, processos impostos e engessados. No que diz respeito a documentação o Scrum não proíbe, mas deixa claro que este não é um valor primordial. Com relação a imposição de regras e normas e procedimentos engessados de fato o Scrum não possui relação alguma com isto.

Os valores do Scrum abordam justamente o aspecto humano de uma forma que seus processos, cerimônias e papéis não. Ele fornece as diretrizes sobre como uma equipe pode interagir de forma eficaz, em nível humano.

Muitos dos problemas interpessoais que o trabalho em conjunto traz à tona, podem ser identificados e tratados de forma direta, quando uma equipe está consciente e focada para entregar valor.

Os valores do Scrum são suficientes para permitir uma variedade de abordagens para lidar com cada um deles, mas também são suficientes para dar perspectiva do que se quer alcançar.

No Scrum sempre é priorizado o ser humano e não os processos. O Scrum foca em valor, não em processo, foca em pessoas e não em organização, foca em resultado e não em contratos. O Scrum sim tem um forte comprometimento com os resultados, assim como no Manifesto Ágil.

Não é muito complexo implementar o Scrum, não demanda muito tempo, muito dinheiro uma vez que a equipe e a organização estão dispostos a abrir mão de velhos costumes e se adaptar a novas práticas, costumes e valores. Com uma pequena empresa de 3 ou 4 funcionários já é possível implementar o Scrum. O Scrum define que uma equipe deve ter entre 3 e 9 funcionários por equipe. Cada equipe deve contar com seu Product Owner, o qual é responsável por classificar todas as funcionalidades do projeto e priorizar a ordem de desenvolvimento, seu Scrum Master, o qual é responsável por manter o Scrum funcionando na equipe e principalmente por remover todo e qualquer obstáculo que a equipe de desenvolvimento poça ter durante a produção do produto e pelo time de desenvolvedores, que são os responsáveis por idealizar e materializar o produto em conjunto uns com os outros sempre em constante comunicação.

Cultura empresarial e o Scrum

A cultura, os valores e as estratégias de uma empresa são os seus principais identificadores. Os   produtos, as estratégias e até mesmo as técnicas empresariais podem ser copiadas, mas os seus valores e normas não. Quando se pensa em criar uma empresa é comum pensar nos princípios da mesma, pensar em como ela poderia funcionar e operar, mas jamais se pensa em como seria a cultura empresarial. A cultura vem com o tempo, vem com as mudanças de pensamentos, mudanças de mercado, mudanças financeiras e até comportamentos de seus funcionários, que sejam bons ou ruins, contribuíram para tornar a empresa o que é. A empresa acaba se tornando um reflexo de seus valores propostos na fundação com os valores trazidos pelos funcionários e pelos valores “impostos” pelo mercado.

A cultura não pode ser imposta, determinada ou ensinada. Precisa ser entendida e absorvida, pelos funcionários. A cultura e os valores da empresa precisa estar diretamente conectada com a cultura e os valores dos funcionários. Isto reflete diretamente em como as pessoas percebem e realizam seu trabalho e torna-se uma peça fundamental de uma transformação Ágil bem-sucedida.

A cultura e os valores de uma empresa não são, necessariamente, fatores bons ou ruins, tudo vai depender da situação em que a empresa se encontra, dos processos que ela tenta implantar e dos problemas já enfrentados por ela.

Quando uma empresa tenta implementar uma metodologia Ágil, acaba passando por uma metamorfose, muitas vezes, difícil e dolorosa não só para os administradores como para os funcionários também. Administradores que fomentam e se nutrem da ideia de possuir poder e manipulação sobre os funcionários e os processos e funcionários que já possuem vícios, processos engessados e ritmo de trabalho adquiridos ao longo de suas carreiras.

Os métodos Ágeis propõem processos simples, descomplicados, transparência para os administradores e autonomia para os colaboradores. Em outras palavras, métodos Ágeis propõem métodos de trabalho completamente diferentes dos que se encontram na maioria das empresas. Os colaboradores possuem autonomia para realizar suas tarefas da forma que preferem, sem intervenções diretas e invasivas dos administradores. Esta autonomia é saudável e um fator fundamental para o crescimento e satisfação dos colaboradores. Claro que quando se fala em autonomia não se fala, necessariamente, em anarquia, onde todos fazem o que querem e como querem, autonomia neste caso é a não imposição e intervenção direta dos administradores nas tarefas que os colaboradores realizam no dia-a-dia.

O conceito do Scrum não se trata de processos ou formas de se trabalhar, o Scrum é um framework que possibilita a empresa empregar e adotar vários processos ou técnicas. Baseados na transparência, inspeção e adaptação, o Scrum foca em entregar valores para o cliente e não em como fazer ou realizar uma determinada tarefa. Tudo no Scrum se resume em ver o cliente satisfeito através dos valores nas entregas constantes realizadas.

O Scrum não trata somente disto, o Scrum não se resume somente em satisfação do cliente. Este sim é o valor principal, mas não é o único. A satisfação dos colaboradores também é um valor muito importante no Scrum. Sem este valor, fica praticamente impossível entregar algo de qualidade e satisfatório para o cliente.

Pelo fato do Scrum ser um framework livre de processos engessados, é possível se adotar práticas saudáveis para o ambiente de trabalho do colaborador. O Scrum até auxilia e incentiva estas práticas para o bem-estar da saúde interna da empresa. Práticas do Scrum como Daily Meeting, Scrum Review, Sprint Plainning são práticas que auxiliam e forçam, de uma forma não invasiva, a interação dos colaboradores entre si e a interação com o produto que estão desenvolvendo. Aos poucos os colaboradores se veem parte daquele processo como um todo e acabem absorvendo para si os valores da empresa. Estas práticas auxiliam nos valores intrínsecos, como escritos anteriormente. O funcionário se vê como peça importante e fundamental para o crescimento e funcionamento da empresa. Ele deixa de se enxergar como um indivíduo isolado e desconectado do processo, ao contrário disto, ele passa a se ver como peça “não no sentido pejorativo” fundamental da empresa e do produto que está realizando.

Além destas práticas propostas pelo Scrum é também possível implementar outras práticas que também auxiliam na satisfação e na produção de um produto de qualidade. Práticas como Kanban (ligado ao valor transparência do Scrum) e Code Review (ligado ao valor inspeção) também são bastante utilizadas no Scrum e não fazem parte de sua documentação. O Scrum é incrível por isto. Ele é tão flexível e funcional que permite a adoção de outras práticas que não fazem, necessariamente, parte dele. Qualquer empresa pode adotar práticas e métodos já existentes e até mesmo criar suas próprias, desde que tais práticas é métodos não confrontem com os valores propostos pelo Scrum.

Conclusão

O Scrum é um meio bastante propício e adequado para criar, promover e manter equipes motivadas. Equipes motivadas e satisfeitas, dispostas a produzir cada vez mais e melhor só podem caminhar rumo ao sucesso. Não só a equipe ou indivíduo em particular ganha com tudo isto, a empresa ou organização também usufrui de todo este sucesso. O cliente, que é o um dos principais alvos de todos estes conceitos, ganha ainda mais. Um cliente satisfeito com um produto de qualidade é o que mantém as engrenagens da empresa ou da organização rodando. Tudo o que foi escrito até aqui sobre motivação é possível colocar em prática onde o Scrum é o alicerce dos processos e métodos. O Scrum é generoso neste aspecto. Ele fornece todo tempo e ambiente necessário para os líderes impulsionarem suas equipes para produzir produtos com qualidade, sempre levando muito em consideração a qualidade de vida no trabalho dos colaboradores.

Seja de forma intrínseca ou extrínseca, um líder deve sempre trabalhar muito para manter sua equipe motivada e disposta a mudar e evoluir. Criar um ambiente desafiador e motivador é uma tarefa bastante complicada e árdua, mas com certeza gera um resultado final satisfatório para todos, sejam eles colaboradores, líderes, administradores, diretores e, principalmente, um cliente.

Links

Motivação Wikipedia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Motiva%C3%A7%C3%A3o

Types of Motivation

http://www.leadership-central.com/types-of-motivation.html#axzz4iP38n2TF

Two-factor theory

https://en.wikipedia.org/wiki/Two-factor_theory

Referências

– TODOROV, João ; MOREIRA, Márcio O Conceito de Motivação na Psicologia 2005 ISSN 1517-5545

– CARNEIRO, David E. Motivação em Integrantes de Equipes de Desenvolvimento de Software no Contexto de Uma Empresa Privada 2011

– FELIX, Aldenei C. L. ; Um Estudo de Caso Sobre Motivação em Integrantes de Equipe de Desenvolvimento de Software no Contexto de Uma Organização Pública 2011